segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

ATITUDES CERTAS POR RAZÕES ERRADAS

Li com certa tristeza a pesquisa feita por uma revista evangélica de circulação estadual acerca do que se mais gosta na igreja. O que mais me entristeceu, embora não me surpreendeu, foi a escala de valores invertida dentro da igreja. Segundo a revista Comunhão de Agosto de 2011, 42,56% do povo evangélico gosta mais do louvor na igreja do que qualquer outra coisa.

Em segundo lugar ficou a expressão “tudo”, com 34,98%. E em terceiro vem a pregação, com 27,74%. O mais triste é que nenhuma destas deveria ser a principal, pois deveríamos estar na igreja pelo simples prazer de ficar na presença de Deus em comunhão com os santos. E depois deveria ser com certeza um culto onde a Palavra fosse o ápice e Cristo  ponto central. A música, embora muito citada, principalmente no livro de salmos, nunca foi o ponto principal do culto a Deus. Lemos na Bíblia que o povo se reunia por horas para ouvir a leitura e a exposição da Palavra de Deus. Os apóstolos, no fenômeno de pentecostes, expunham as Escrituras e as explicavam para aquele povo. Paulo escrevendo a Timóteo em suas duas cartas mostra a importância da pregação da Palavra e do domínio da mesma pelo pregador. O autor aos hebreus demonstra a importância de se frequentar as reuniões para admoestação mútua.


Sabemos que nossa sociedade a muito já vem invertendo sua escala de valores. Que a moralidade e os bons costumes têm sido deixados de lado em nome da boa convivência ou de direitos humanos que, em muitos casos, se traduzem em direito a pecar ou a viver de forma promíscua ou coisas semelhantes a estas. O problema que quando isto chega à igreja fica mais difícil ainda a sociedade conseguir sair da situação em que está. O Reino Unido foi grandemente influenciado por avivamentos que ocorreram entre o povo de Deus naquela região. Boa parte das leis e do desenvolvimento moral daqueles países se deve à influência da igreja paralela (pois a igreja inglesa se dizia protestante, mas não abandonava as práticas ritualísticas e vazias). Os puritanos apareceram principalmente entre batistas, presbiterianos e congregacionais e influenciaram a sociedade de forma positiva, embora fossem mal vistos por muitos ramos da mesma.

Expondo isto, quero que pare para pensar em como tem sido a mensagem que temos passado para a sociedade como povo de Deus? Como realmente posso conquistar almas para Cristo se o que mais gosto na igreja não são os valores que a Palavra estabelece, mas os que meu coração gosta? Quando um veículo de comunicação evangélico, que é lido por pessoas que não são protestantes, mostra uma notícia dessas significa que nós estamos caminhando a passos largos para longe da vontade de Deus. Quero mostrar alguns pontos que precisamos estabelecer para sairmos desta situação.

Em primeiro lugar precisamos compreender que temos que fazer a diferença (I Jo 2:15). Quando se fala que gosta mais de louvor, não estamos fazendo a diferença. A ideia do louvor é a da agitação, da descontração e do agrado ao coração. Estamos realmente querendo fazer a diferença? Então precisamos nos comportar de forma diferente e ter também uma visão diferente do mundo, sem se tornar alienado a ele. Não estou querendo dizer com isto que sou contra aos momentos de música, mesmo a contemporânea, desde que tenha uma letra bíblica e teologicamente coerente, e não seja algo apenas para entreter as pessoas. Não podemos cantar apenas por cantar. A música precisa estar relacionada com a mensagem que será pregada.

Em segundo lugar temos que ter consciência que nosso coração é enganoso (Jr 17:9). O homem tem a tendência ao pecado. Mesmo transformados por Cristo ainda temos o corpo do velho homem que carregamos cujo peso tende a nos derrubar.  O que nosso coração deseja, não significa que seja o melhor ou aprovado por Deus. Sempre coloco meus gostos nas questões espirituais em avaliação constante, afinal o gosto é um desejo do coração.

Em terceiro lugar necessitamos de compreender que algo melhor nos espera (Rm 8:18; II Co 4:17). Hoje queremos igrejas que possam nos proporcionar felicidade e alegria. Mas pouco nos preocupamos com esperança eterna que é muito maior do que qualquer sofrimento ou alegria que venhamos passar. O santuário é um lugar para nos abastecermos para o dia a dia. Mas isto significa que precisamos ouvir o que nos edifica e não o que nos alegra. Nem sempre o que nos edifica é aquilo que nós gostamos (Hb 12:11). Temos algo melhor nos aguardando no futuro.  Algo que nos trará plena alegria e gozo.

Por último, temos que repensar se estamos oferecendo o verdadeiro evangelho (II Tm 4:3). Esta triste estatística pode comprovar algo que desde minha juventude me incomoda, o evangelho está sendo maquiado e oferecido longe dos padrões que a Bíblia estabelece. Hoje oferecemos cultos para o “sem igrejas” para ganhá-los, e nos esquecemos de que todo culto é para Deus e o evangelho precisa ser pregado na íntegra, sem maquiagem, sem mensagens humanistas ou de cunho psicológico. Temos a ideia absurda do crescimento de fora para dentro, onde a mensagem tem sido moldada para agradar as pessoas e tem lotado santuários com pessoas vazias de Deus. Há ainda os cultos “espiritualistas” e “místicos”, onde o manto sagrado, o túnel dos 318, carnê ungido, entre tantos, fazem com que as pessoas sejam atendidas em seus anseios terrenos, mas não conseguem ver a realidade infernal de suas almas.

Claro que precisamos ganhar almas. Mas temos que ter consciência de que as almas primeiramente devem ser ganhas para o céu, e não apenas para igrejas. Claro que muito joio haverá no meio do trigo, mas não podemos ser responsáveis por aumentar esta cota. Temos que nos preocupar constantemente se não estamos levando as pessoas a buscarem a igreja, chegando até ao batismo, que é a atitude correta, mas tendo em suas motivações elementos errados e distantes do caminho do céu.

Que Deus nos ajude para que não estejamos criando bodes ao invés de ovelhas. Pessoas que têm atitudes certas por motivos errados.

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