segunda-feira, 10 de junho de 2013

UMA HISTÓRIA DE FÉ



Antonio Carlos G. Affonso

Torturado por sua fé (FIEL, 2006, 168 páginas) de Haralan Popov é um livro que conta o sofrimento do autor na Bulgária comunista. O Pr. Popov mostra como Deus esteve ao seu lado todo tempo de seu cativeiro e como o regime comunista tentava fazer adeptos através da tortura e da lavagem cerebral.
Popov divide seu livro em 18 partes que descrevem sua vida como pastor dentro das cadeias búlgaras no início do regime comunista. Foram 13 anos de aprisionamento acusado de espionagem, mas a desculpa era apenas para acabar com as igrejas na Bulgária. O autor foca muito o cuidado, o conforto e a força que Deus lhe deu durante todo período de prisão.
O livro começa narrando o momento em que é sequestrado dentro de sua casa em plena madrugada enquanto dormia com sua família. Esta era composta por ele, sua esposa, Rute e seus filhos, Rode e Paulo. Este fato ocorre em 24 de julho de 1948. Popov foi levado para uma cela, antes porém se apresentou a um jovem que o colocou diante da parede onde ele ficou por horas sendo interrogado. Foi transferido para uma prisão conhecida como Casa Branca, passando a ser cruelmente torturado sendo levado ao extremo da dor e da crueldade humana.
Na quarta parte de seu livro, Popov, abre um parêntesis para contar de sua conversão de um ateu convicto, para um ardente cristão. Fala um pouco de sua infância e de como era sua família. Ainda jovem, foi levado a conhecer o evangelho através de um amigo de nome Christo. Ele se encanta com a educação e a cultura do pastor e da congregação, descobrindo assim que não havia apenas pessoas ignorante no cristianismo. Assim, após uma luta intensa em seu interior, Halaran Popov aceita a Cristo em seu coração e passa segui-lo.
Ainda dentro desta parte, Popov faz uma pequena apresentação de como a Bulgária se tornara uma pequena Rússia. Porém, ele descreve em poucas palavras, como Deus prepara a igreja, entre os anos de 1944 a 1947, para tudo que estava por vir sobre aquele país. Ele chama este período de “anteriores à tempestade”. Era algo que prenunciava o que estava por vir.
A perseguição tem início com a tentativa do governo de se infiltrar dentro das igrejas através de espiões que lhe traziam relatórios. Gradualmente os pastores sérios eram substituídos por “fantoches do governo”. Aqueles homens de Deus eram destituídos de seus púlpitos e se tornavam trabalhadores braçais. O governo búlgaro inicia uma grande campanha para denegrir a imagem das grandes denominações evangélicas que existiam naquele país.
Popov procura mostrar as dificuldades dos primeiros dias de prisão. Expõe sobre os escritos das paredes que mostravam o quanto era difícil aquele momento que eles passavam. Bandidos e estupradores tinham acomodações melhores do que os presos políticos e os religiosos. Na prisão ele fica sabendo que uma pessoa que fora sua amiga foi um dos organizadores contra os pastores evangélicos. O poder havia subido à cabeça daquele jovem. O desdém daquele homem foi tão grande para com seu “amigo” Halaran, que não aceitou nem mesmo ser chamado pelo nome, mas de camarada Tchankov (seu nome era Veltcho). Neste ponto, Popov afirma: “Os nazistas eram cruéis, mas os comunistas são cruéis e diabolicamente astutos”.
Os presos eram alimentados por duas fatias de pão e uma “sopa”. Eles batizaram de “dieta da morte”. Popov afirma que o objetivo era “quebrantar” os prisioneiros. Nesta época o autor conheceu a primeira cela de punição. Ele tinha que ficar virado para uma parede, extremamente branca, sem se mexer, e sendo interrogado initerruptamente por três pessoas que se revezavam a cada oito horas. Eles queriam que ele confessasse que era um espião a serviço dos Estados Unidos e dos países inimigos do comunismo. Ele ficou quatorze dias diante daquela parede sendo interrogado e sofrendo espancamentos e humilhações. No final, o interrogador principal, colocou uma arma em sua cabeça e disse que contaria até cinco para que ele confessasse, senão atiraria. No final da contagem ele “apenas” deu uma coronhada na cabeça de Popov e este foi levado a seu quarto. O autor relata o seu imenso desejo de morrer e se encontrar com o Senhor definitivamente. Ele chega a dizer que ficou desapontado por não ter sido morto naquela ocasião.
Em seguida ele foi entregue a um advogado para que chegasse até a confissão. Fato que não ocorreu. A esta altura ele começa a pregar o evangelho e leva o primeiro preso a Cristo, Mitko.
Em determinado momento a tortura foi tão grande que Popov cedeu e confessou que era espião. Foi marcado o julgamento. Lá ele recebeu a sentença de 15 anos de prisão por espionagem. Seu irmão, Ladin, também era pastor, foi condenado a 5 anos. Seu irmão nunca cedeu à pressão, mas recebeu uma pena menor do que Popov e outros pastores. Confesso que, embora ele explique, não ficou claro para mim o que ocorreu.
Na prisão ele recebe várias ameaças de morte e chegou ao ponto de ter um fuzil apontado para sua cabeça e quando o soldado ia atirar foi chamado para ir a outro lugar. Os soldados atiravam em qualquer um que fizesse um movimento suspeito. Isto ocorreu na prisão de Persin, onde o autor e os demais prisioneiros eram submetidos a trabalho escravo. A fome era tanta que eles acabavam comendo folhas, ratos e outras coisas mais, e por causa disso eram assassinados covardemente.
Apesar de ter confessado, Popov foi classificado como “não-reformado”, uma vez que ele não se curvava àquela ditadura. Ele aproveitou para pregar o evangelho. No final do livro agradece por ter tido a oportunidade de pregar a Cristo e conseguir levar algumas almas aos pés do Senhor.
O autor teve duas grandes alegrias em sua prisão. A primeira delas foi a deportação de sua esposa com seus filhos para Suécia, tendo em vista que ela era cidadã sueca. Ele ficou muito alegre e os presos se alegravam com ele. O outro foi quando depois de cinco anos presos conseguir uma parte do Novo Testamento. Ele chegou oferecer todo salário de seus serviços para o preso que usava o Livro Sacro para fazer rolos de cigarro. Sabendo que lhe seria tomado a qualquer momento, tratou de memorizar o maior número possível de passagens bíblicas. Ele conseguiu memorizar 47 capítulos da Bíblia.
Em Persin ele passou a maior parte de sua prisão. Lá também ele teve os piores e os melhores momentos. Piores, por causa das torturas e constantes punições que recebia. Melhores, porque conseguiu levar muitas pessoas aos pés de Cristo. Inclusive evangelizando através de um código secreto que os presos tinham utilizando-se das canecas de alumínio e batendo-as na parede vizinha.
A comida em Persin era bem semelhante à das outras prisões. Mas o caldo era uma espécie de caldo de feijão, sem feijão. Era tão difícil a vida que o dia que esqueceram um caroço no prato de um dos presos, todos fizeram uma festa.
Sendo transferido para Stara Zagora, ele passa a pregar mais intensamente o evangelho. Lá ele consegue pregar o evangelho através de aulas de inglês. Ele falava fluentemente este idioma e se aproveitou do momento que deveria ser de educação física, para ensinar inglês e, principalmente pregar o evangelho. Acabou colhendo muitos frutos destes estudos.
Em 25 de setembro de 1961 ele foi solto. Passou a trabalhar para aquela que mais tarde ficou conhecida como “igreja subterrânea”. Junto com seu irmão ele pregou intensamente o evangelho em um país onde as igrejas eram controladas pelo estado e pastores-fantoches eram seus líderes.
Popov não pode mais ser pastor oficial em seu país, mas, através de muita fé e perseverança, foi o principal articulador da “igreja subterrânea” na Bulgária. Morando em um pequeno quarto, e com a ajuda de uma senhora que carinhosamente era chamada de babba Maria, seu ministério cresceu e se multiplicou.
Demorou um pouco para que ele conseguisse ver sua esposa, mas depois de 13 anos foi um encontro emocionante e profundo. Sua filha, Rode, estava casada. Sua vida estava totalmente transformada. De pastor de uma das maiores igrejas da Bulgária, para um clandestino da Palavra de Deus.
Um dos momentos mais emocionantes foi quando uma jovem pedia todos os dias a Popov para lhe emprestasse a Bíblia afim de que ela pudesse copiar, e ter assim seu próprio “exemplar” da Palavra de Deus.
As “fábricas subterrâneas de Bíblia” foi outro ponto marcante do livro. As Bíblias era feitas à mão literalmente, desde a cópia, até o acabamento. O serviço era feito escondido e com grande urgência para suprir a falta de Bíblia no mercado. Mesmo assim só conseguiam produzir no máximo trinta Bíblias por ano. Nesta mesma parte ele fala de um certo homem que traduzia livros do inglês e datilografava cada um para distribuir entre os crentes da “igreja subterrânea”.
A “igreja subterrânea” passou a orar para que Haralan fosse enviado à Suécia para sua família, e assim se tornasse a voz da igreja no mundo fora da “Cortina de Ferro”. Milagrosamente o passaporte lhe foi concedido e partiu para a Suécia.
O livro é vibrante e de leitura fácil. Retrata de uma forma cativante e aterradora os momentos difíceis que passou esse homem de Deus. Ele nos faz pensar sobre o comunismo por uma ótica diferente. Mostra uma faceta que os governos de esquerda fazem questão de esconder. Mostra ainda que este sistema se mostra atraente por causa da mensagem de igualdade, mas intolerante com qualquer um que pense diferente.  


Referência Bibliográfica:
POPOV, Haralan. Torturado por sua fé.  São José dos Campos , SP: FIEL, 2006, traduzido por João Bentes.

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