Antonio Carlos G. Affonso
Torturado por sua fé (FIEL, 2006, 168 páginas) de Haralan Popov é um livro que conta o sofrimento do
autor na Bulgária comunista. O Pr. Popov mostra como Deus esteve ao seu lado
todo tempo de seu cativeiro e como o regime comunista tentava fazer adeptos
através da tortura e da lavagem cerebral.
Popov divide seu livro em 18 partes que descrevem sua vida como
pastor dentro das cadeias búlgaras no início do regime comunista. Foram 13 anos
de aprisionamento acusado de espionagem, mas a desculpa era apenas para acabar
com as igrejas na Bulgária. O autor foca muito o cuidado, o conforto e a força
que Deus lhe deu durante todo período de prisão.
O livro começa narrando o momento em que é sequestrado dentro de
sua casa em plena madrugada enquanto dormia com sua família. Esta era composta
por ele, sua esposa, Rute e seus filhos, Rode e Paulo. Este fato ocorre em 24
de julho de 1948. Popov foi levado para uma cela, antes porém se apresentou a
um jovem que o colocou diante da parede onde ele ficou por horas sendo
interrogado. Foi transferido para uma prisão conhecida como Casa Branca, passando
a ser cruelmente torturado sendo levado ao extremo da dor e da crueldade
humana.
Na quarta parte de seu livro, Popov, abre um parêntesis para
contar de sua conversão de um ateu convicto, para um ardente cristão. Fala um
pouco de sua infância e de como era sua família. Ainda jovem, foi levado a
conhecer o evangelho através de um amigo de nome Christo. Ele se encanta com a
educação e a cultura do pastor e da congregação, descobrindo assim que não
havia apenas pessoas ignorante no cristianismo. Assim, após uma luta intensa em
seu interior, Halaran Popov aceita a Cristo em seu coração e passa segui-lo.
Ainda dentro desta parte, Popov faz uma pequena apresentação de
como a Bulgária se tornara uma pequena Rússia. Porém, ele descreve em poucas
palavras, como Deus prepara a igreja, entre os anos de 1944 a 1947, para tudo
que estava por vir sobre aquele país. Ele chama este período de “anteriores à
tempestade”. Era algo que prenunciava o que estava por vir.
A perseguição tem início com a tentativa do governo de se
infiltrar dentro das igrejas através de espiões que lhe traziam relatórios.
Gradualmente os pastores sérios eram substituídos por “fantoches do governo”.
Aqueles homens de Deus eram destituídos de seus púlpitos e se tornavam
trabalhadores braçais. O governo búlgaro inicia uma grande campanha para
denegrir a imagem das grandes denominações evangélicas que existiam naquele
país.
Popov procura mostrar as dificuldades dos primeiros dias de
prisão. Expõe sobre os escritos das paredes que mostravam o quanto era difícil
aquele momento que eles passavam. Bandidos e estupradores tinham acomodações
melhores do que os presos políticos e os religiosos. Na prisão ele fica sabendo
que uma pessoa que fora sua amiga foi um dos organizadores contra os pastores
evangélicos. O poder havia subido à cabeça daquele jovem. O desdém daquele homem
foi tão grande para com seu “amigo” Halaran, que não aceitou nem mesmo ser
chamado pelo nome, mas de camarada Tchankov (seu nome era Veltcho). Neste
ponto, Popov afirma: “Os nazistas eram cruéis, mas os comunistas são cruéis e
diabolicamente astutos”.
Os presos eram alimentados por duas fatias de pão e uma “sopa”.
Eles batizaram de “dieta da morte”. Popov afirma que o objetivo era
“quebrantar” os prisioneiros. Nesta época o autor conheceu a primeira cela de
punição. Ele tinha que ficar virado para uma parede, extremamente branca, sem
se mexer, e sendo interrogado initerruptamente por três pessoas que se
revezavam a cada oito horas. Eles queriam que ele confessasse que era um espião
a serviço dos Estados Unidos e dos países inimigos do comunismo. Ele ficou
quatorze dias diante daquela parede sendo interrogado e sofrendo espancamentos
e humilhações. No final, o interrogador principal, colocou uma arma em sua
cabeça e disse que contaria até cinco para que ele confessasse, senão atiraria.
No final da contagem ele “apenas” deu uma coronhada na cabeça de Popov e este
foi levado a seu quarto. O autor relata o seu imenso desejo de morrer e se
encontrar com o Senhor definitivamente. Ele chega a dizer que ficou desapontado
por não ter sido morto naquela ocasião.
Em seguida ele foi entregue a um advogado para que chegasse até
a confissão. Fato que não ocorreu. A esta altura ele começa a pregar o
evangelho e leva o primeiro preso a Cristo, Mitko.
Em determinado momento a tortura foi tão grande que Popov cedeu
e confessou que era espião. Foi marcado o julgamento. Lá ele recebeu a sentença
de 15 anos de prisão por espionagem. Seu irmão, Ladin, também era pastor, foi
condenado a 5 anos. Seu irmão nunca cedeu à pressão, mas recebeu uma pena menor
do que Popov e outros pastores. Confesso que, embora ele explique, não ficou
claro para mim o que ocorreu.
Na prisão ele recebe várias ameaças de morte e chegou ao ponto
de ter um fuzil apontado para sua cabeça e quando o soldado ia atirar foi
chamado para ir a outro lugar. Os soldados atiravam em qualquer um que fizesse
um movimento suspeito. Isto ocorreu na prisão de Persin, onde o autor e os
demais prisioneiros eram submetidos a trabalho escravo. A fome era tanta que
eles acabavam comendo folhas, ratos e outras coisas mais, e por causa disso
eram assassinados covardemente.
Apesar de ter confessado, Popov foi classificado como
“não-reformado”, uma vez que ele não se curvava àquela ditadura. Ele aproveitou
para pregar o evangelho. No final do livro agradece por ter tido a oportunidade
de pregar a Cristo e conseguir levar algumas almas aos pés do Senhor.
O autor teve duas grandes alegrias em sua prisão. A primeira
delas foi a deportação de sua esposa com seus filhos para Suécia, tendo em
vista que ela era cidadã sueca. Ele ficou muito alegre e os presos se alegravam
com ele. O outro foi quando depois de cinco anos presos conseguir uma parte do
Novo Testamento. Ele chegou oferecer todo salário de seus serviços para o preso
que usava o Livro Sacro para fazer rolos de cigarro. Sabendo que lhe seria
tomado a qualquer momento, tratou de memorizar o maior número possível de
passagens bíblicas. Ele conseguiu memorizar 47 capítulos da Bíblia.
Em Persin ele passou a maior parte de sua prisão. Lá também ele
teve os piores e os melhores momentos. Piores, por causa das torturas e constantes
punições que recebia. Melhores, porque conseguiu levar muitas pessoas aos pés
de Cristo. Inclusive evangelizando através de um código secreto que os presos
tinham utilizando-se das canecas de alumínio e batendo-as na parede vizinha.
A comida em Persin era bem semelhante à das outras prisões. Mas
o caldo era uma espécie de caldo de feijão, sem feijão. Era tão difícil a vida
que o dia que esqueceram um caroço no prato de um dos presos, todos fizeram uma
festa.
Sendo transferido para Stara Zagora, ele passa a pregar mais
intensamente o evangelho. Lá ele consegue pregar o evangelho através de aulas
de inglês. Ele falava fluentemente este idioma e se aproveitou do momento que
deveria ser de educação física, para ensinar inglês e, principalmente pregar o evangelho.
Acabou colhendo muitos frutos destes estudos.
Em 25 de setembro de 1961 ele foi solto. Passou a trabalhar para
aquela que mais tarde ficou conhecida como “igreja subterrânea”. Junto com seu
irmão ele pregou intensamente o evangelho em um país onde as igrejas eram
controladas pelo estado e pastores-fantoches eram seus líderes.
Popov não pode mais ser pastor oficial em seu país, mas, através
de muita fé e perseverança, foi o principal articulador da “igreja subterrânea”
na Bulgária. Morando em um pequeno quarto, e com a ajuda de uma senhora que
carinhosamente era chamada de babba
Maria, seu ministério cresceu e se multiplicou.
Demorou um pouco para que ele conseguisse ver sua esposa, mas
depois de 13 anos foi um encontro emocionante e profundo. Sua filha, Rode,
estava casada. Sua vida estava totalmente transformada. De pastor de uma das
maiores igrejas da Bulgária, para um clandestino da Palavra de Deus.
Um dos momentos mais emocionantes foi quando uma jovem pedia
todos os dias a Popov para lhe emprestasse a Bíblia afim de que ela pudesse
copiar, e ter assim seu próprio “exemplar” da Palavra de Deus.
As “fábricas subterrâneas de Bíblia” foi outro ponto marcante do
livro. As Bíblias era feitas à mão literalmente, desde a cópia, até o
acabamento. O serviço era feito escondido e com grande urgência para suprir a
falta de Bíblia no mercado. Mesmo assim só conseguiam produzir no máximo trinta
Bíblias por ano. Nesta mesma parte ele fala de um certo homem que traduzia
livros do inglês e datilografava cada um para distribuir entre os crentes da
“igreja subterrânea”.
A “igreja subterrânea” passou a orar para que Haralan fosse
enviado à Suécia para sua família, e assim se tornasse a voz da igreja no mundo
fora da “Cortina de Ferro”. Milagrosamente o passaporte lhe foi concedido e
partiu para a Suécia.
O livro é vibrante e de leitura fácil. Retrata de uma forma
cativante e aterradora os momentos difíceis que passou esse homem de Deus. Ele
nos faz pensar sobre o comunismo por uma ótica diferente. Mostra uma faceta que
os governos de esquerda fazem questão de esconder. Mostra ainda que este
sistema se mostra atraente por causa da mensagem de igualdade, mas intolerante
com qualquer um que pense diferente.
Referência Bibliográfica:
POPOV, Haralan. Torturado por sua fé. São José dos Campos , SP: FIEL, 2006,
traduzido por João Bentes.
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