Tenho visto nos arraiais midiáticos histórias cheias de
romantismo e humanismo acerca do preço que Jesus pagou na cruz. Umas contam que
Cristo viu a humanidade presa às garras de Satanás e se ofereceu para pagar ao
inimigo o preço de nossa prisão. Outras afirmam que Deus nos amou mais do que a
seu próprio filho e o entregou ao inimigo para pagar o preço de nossa redenção.
O grande problema está em não conseguir entender ou conceber a
ideia de que Deus é criador de todas as coisas, inclusive do próprio mal (Is
45:7). Mais do que isso, a grande dificuldade é ver que a própria Bíblia mostra
que quem amaldiçoa a humanidade, e de quebra o Diabo, é o próprio Deus (Gn 3:14-19).
Logo, nunca o preço a ser pago seria ao
Diabo. Não foi ele que nos condenou ao inferno, foi Deus através de sua ira
contra o pecado (Jo 3:36; Rm 3:23; 6:23).
Há três palavras bíblicas que esclarecem isso com muita
propriedade, mas que infelizmente nem mesmo pastores e seminaristas às vezes
conseguem entender. São elas: redenção, expiação e propiciação. Em Romanos 3:24
vemos que a redenção, junto com a graça, nos livra do resultado que o pecado gerou
sobre nossas vidas, mas o contexto de Romanos deixa claro que nós somos
condenados pela lei do próprio Deus. Em Colossenses 1:14, observa-se a
magistral ideia de que Jesus nos remiu os pecados, e esses que nos separam de
Deus como Isaias 59:2 deixa muito claro. Quando a Bíblia afirma que Deus não
nos destinou para a ira (I Ts 5:9), refere-se a ira do próprio Deus. Ou seja, o
castigo final daqueles que não aceitam a Jesus, mas quem proporcionou este
castigo não foi o Diabo, afinal, ele será um dos castigados naquele dia, mas
foi o próprio Deus (Gn 3:14-19).
A outra palavra esclarecedora é expiação. Em Levítico 16 vemos a
ideia de dois bodes, ambos apontando para o sacrifício de Cristo. Nesta
passagem o que fica claro que o pagamento da dívida é feita a Deus. É exatamente
isso que Isaias 53 mostra com muita clareza. A expiação é o pagamento pelo
pecado. Mas o pagamento é feito a quem? Logicamente a quem determinou a prisão,
ou seja, Deus. Se mantermos em mente o texto de Gênesis 3 veremos que tudo
recai sobre Deus. Foi Ele que nos condenou, logo, é a Ele que deve ser pago
nosso preço. O que as pessoas não conseguem entender que Ele nos condena e nos oferece
a Salvação pela graça dEle mesmo. Isto fica tremendamente explicito na história
de Abraão e Isaque (Gn 22), quando aquele levando este para sacrifício ouve a
seguinte pergunta: “Pai, onde está o cordeiro?”. Abraão, com o coração apertado
e dolorido, responde: “Deus proverá para
si o cordeiro”. Preste atenção, Deus proveu Jesus, o cordeiro que tira
o pecado do mundo, para si, não para o Diabo ou para outra coisa. A cédula
riscada em Colossenses 2:14, compreende o pagamento pelo pecado (v. 13). Os
principados e potestades serão derrotados pela obra da cruz (v. 15). Não estão
sendo pagos, estão sendo despojados. Eles representam o oportunismo do Diabo
diante de nossas fraquezas. Mas serão derrotados.
A última palavra é propiciação. Desde a antiguidade esta expressão
refere-se ao aplacar da ira de uma divindade. Esta palavra também aparece em
Romanos 3, junto com redenção. A ideia de propiciação fica clara na cruz.
Quando Jesus clama que foi abandonado pelo Pai, ele está se referindo a dor de
receber toda ira de Deus sobre si. Toda ira do Senhor que deveria vir sobre mim
ou você, foi derramada na cruz em Cristo. Jesus aplacou a ira de Deus e colocou
à disposição da humanidade um novo e vivo caminho para que essa possa alcançar
a redenção através da graça (I Jo 2:2).
Veja bem, em nenhum lugar da Bíblia encontra-se a ideia de que
Deus ou Cristo tenham quitado uma dívida ao Diabo. Esta heresia é perigosa e
nos faz conceber a ideia de um Deus pequeno demais. Deve-se aceitar a Cristo
pelo que Ele fez, não por temor ao Diabo. Este irá padecer no inferno como qualquer
um que não aceita a obra redentora, expiatória ou propiciatória de Cristo.
A Deus toda glória!
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