Antonio Carlos G. Affonso
Reforma Agora: O Antídoto
para a confusão evangélica no Brasil (FIEL, 2013, 154 páginas) de Renato
Vargens é um livro que trata o afastamento da igreja protestante, em especial
no Brasil, dos princípios norteadores da reforma protestante do século XVI. O material
é de leitura agradável e simples, embora não fuja de uma profundidade
suficiente para trazer a luz grandes esclarecimentos.
O livro é dividido em oito capítulos sendo que os seis primeiros
o autor se preocupa em mostrar os princípios norteadores da reforma
protestante, as cinco “solas”.
No primeiro capítulo Vargens se preocupa em mostrar alguma coisa
sobre a história protestante e seu principal expoente, Martinho Lutero. Fazendo
um pequeno passeio pela história ele nos mostra questões políticas e teológicas
que envolveram a reforma na Alemanha que se espalhou por toda Europa da época.
Ele deixa claro que Lutero não queria dividir a igreja, mas sim denunciar os
abusos que ocorriam.
Os capítulos seguintes são exposições breves sobre as cinco solas da reforma protestante. Renato
Vargens explica cada uma delas com muita simplicidade, objetividade e clareza. No
primeiro momento, explicando sobre “sola scriptura”, só as Escrituras, o
escritor mostra que a igreja atual, católicos e neopentencostais, em especial,
se assemelha muito com a igreja do século XVI. Hoje, bênção e salvação
continuam sendo “negociadas” e “vendidas”. O autor critica o fato da igreja
protestante crer que está vivendo um avivamento em meio a tanta sandice.
O autor ataca o problema da Palavra de Deus não ser mais o
centro do culto. Ele destaca quatro problemas que surgem daí: 1) O liberalismo
teológico; 2) O sincretismo religioso; 3) A falência do púlpito; 4) Uma
liturgia antropocêntrica. A solução para isto é mostrada na relevância das
Escrituras para a igreja brasileira. Tal relevância deve levar a igreja a
experimentar: 1) A exaltação ao nome de Jesus; 2) O reconhecimento da
miserabilidade do homem; 3) A salvação dos eleitos e a condenação dos réprobos;
4) O governo de um Deus que reina soberanamente sobre tudo e todos.
O capítulo três é dedicado à “sola gratia”, só a graça. O autor
mostra que os neopentecostais afirmam que a salvação é pela graça, mas não
vivem desta forma e muito menos pregam desta forma. O escritor expõe de uma
forma maravilhosa a ideia da graça. Através da história de John Newton, autor
do hino “Amazing Grace”, ele exemplifica o poder transformador da graça. Renato
Vargens termina este capítulo expondo sobre os conceitos da graça na Bíblia.
O quarto capítulo é dedicado à “sola fide”, só a fé. O grande
destaque deste capítulo é a ideia de fé na fé, que o autor aborda de uma forma
muito clara. Ele mostra que para o neopentecostalismo existem dois tipos de fé:
a milagreira e a salvífica. Todavia Vargens mostra que na Bíblia, em especial a
pessoa de Jesus, não faz orientações do tipo ungir objetos, ou coisa assim. O escritor
mostra que a fé além de salvadora deve ser nosso estilo de vida, e conclama que
a igreja do século XXI deve buscar viver como a igreja que se reformava no
século XVI.
O “solus cristus”, só Cristo, é o assunto do quinto capítulo. O alerta
que o autor faz é quanto ao “messianismo” que toma para si a ideia de “ungido
do Senhor” para justificar o seus desmandes. Vargens ataca o problema dos
apóstolos, bispos, patriarcas e outros títulos que são autoproclamados por
muitos pelo Brasil a fora. Ele mostra que a ideia papal acaba por estar presente
dentro da igreja dita evangélica, e que Cristo acaba ficando em segundo plano,
em alguns casos até desnecessário. Ele destaca o sacerdócio universal dos
crentes, em detrimento da ideia episcopal que anda em voga. O escritor mostra
que uma igreja que prega somente a Cristo vivencia uma visão saudável de quem é
o Filho de Deus; entendendo que a salvação não se dá por ações místicas
proferidas por “profetas especias”, deixando de ser personalista, abandonando o
sincretismo, rejeitando o ecumenismo e jamais pregando a salvação pelas obras.
“Soli Deo Gloria”, só a Deus glória, é a última das “solas”. Neste
capítulo o autor volta a atacar a supervalorização da figura do pastor, ou os
nomes autoproclamados. O autor mostra que os reformadores tentavam tirar de
sobre si a glória e apontar inteiramente para Deus. A glória de Deus seria o
fim para que fomos criados, sendo assim tudo deve ser voltado para esta glória.
Vargens destaca que no neopentecostalismo tudo em voltado para as necessidades
humanas, e não para a glória de Deus. Desde a música, passando pela pregação e
finalizando com a liturgia, tudo é centrado no homem. O autor destaca que o
viver para a glória de Deus compreende saber que não há dualismo na vida
cristã, onde não há o sagrado e o profano, mas que tudo deve ser para a glória
de Deus e este deve ser honrado em tudo que fazemos.
O capítulo sete é o do antídoto. Renato Vargens destaca que o remédio
para tudo isto é retorno às Sagradas Escrituras. Ele destaca em especial o
ensino através da Escola Bíblica Dominical. Ele mostra que a igreja precisa
voltar ao estudo sistemático da Bíblia como fonte saudável da recuperação espiritual
da igreja brasileira.
O capítulo oito é dedicado a perguntas que Renato Vargens foi
inquirido em seu blog. Ele separou 15 temas para inserir no livro em questão.
Todas as perguntas estão ligadas a tudo que foi discutido no livro e são úteis
para debates no seio da igreja.
O livro mostra uma realidade latente na igreja brasileira. Tenho
que concordar com o autor sobre a questão do neopentecostalismo, mas acrescento
que os problemas por ele levantados podem ser vistos no meio das igrejas
históricas. Em especial na pregação e no estudo sistemático das Escrituras. Recomendo
a leitura do livro a todos que desejam conhecer um pouco da febre
antropocêntrica que inunda a igreja brasileira.
Referência Bibliográfica:
VARGENS, Renato. Reforma Agora: O Antídoto para a Confusão
Evangélica no Brasil. São José dos Campos,
SP: FIEL, 2013.
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