Antonio Carlos G. Affonso
A Mente de
Cristo:
Conversão e Cosmovisão Cristã (Vida Nova, 2012, 224 páginas) de
Norma Braga
Venâncio é um livro que trata os aspectos da cosmovisão cristã versus a cosmovisão secular. A autora
mostra um perfil conservador sobre o assunto buscando manter a
centralidade de
seus argumentos numa interpretação ortodoxa das Escrituras.
Norma divide seu livro em
três partes onde são inseridas
crônicas e artigos escritos pela autora. Na primeira parte Norma Braga
nos
apresenta seu testemunho de conversão. Ela tem uma grande preocupação
em mostrar
a consciência de pecado que preencheu sua mente levando-lhe à “felix culpa”. Nesta parte ela mostra que
a Igreja atual não está isenta do sincretismo que o mundo procura
lançar sobre
ela. Desta maneira ela destaca a necessidade do conhecimento de Deus e
o viver
e a salvação somente pela fé.
Ela encerra esta parte
mostrando que ainda está em processo de
aperfeiçoamento deixando o relativismo emocional e passando para uma fé
madura
e consciente de suas responsabilidades. Neste interim ela afirma que
abre o seu
blog e este serve como meio de reexame do seu cristianismo.
A segunda parte Norma
chama de “Crônicas de fragmentação
moderna”. É a maior parte do livro. Ela a subdivide em duas: “A
religião
secular” e “O secularismo religioso”. Na primeira subdivisão percebe-se
uma
preocupação sadia em mostrar que o politicamente correto nem sempre é
aquilo
que a Bíblia determina. Destaca-se nesta seção a defesa do
conservadorismo e um
ataque veemente da autora contra a esquerda política. Em alguns
momentos ela
parece transparecer certo ressentimento pelo posicionamento político.
Mas em
outros a escritora mostra uma lucidez bem acima da média no que tange
questões político-sociológicas.
Ao mostrar que nazismo e comunismo são “gêmeos heterozigotos” a autora
se
posiciona contra qualquer tipo de totalitarismo. Neste
ponto ela deixa claro que vê na
esquerda brasileira, ou mesmo na ocidental, tentativas de criar,
através
daquilo que se chama politicamente correto, uma espécie de
totalitarismo
pseudodemocrático.
A autora muda seu
argumento, mas não perde sua premissa quando
parte para mostrar os problemas da homofobia e do aborto. Com muita
propriedade, para não dizer autoridade que fica exposta na crônica
“Dezenove
Semanas de Amor”, a autora mostra que estas coisas são faces de uma
mesma
moeda. Ela destaca ainda que os homossexuais querem algo no ocidente,
mas não estão
nem um pouco preocupados com aqueles que são mortos em países onde o
homossexualismo é proibido. Norma destaca que aqueles que querem acabar
com a
homofobia, querem na realidade privilegiar uma minoria marginalizando
outros
grupos, no caso os cristãos conservadores. Nesta parte a autora faz uma
crítica
à posição de Philip Yancey, onde em muitos de seus livros e palestras,
tem se
posicionado a favor do homossexualismo.
A autora passa a
descrever questões sobre machismo e feminismo.
Ela mostra que as duas polarizações são perigosas e estão longe da
vontade de
Deus. Expõe sobre o perigo dos homens não assumirem sua posição de
liderança e
também das mulheres usurparem esta posição que, de acordo com a autora,
foi
estabelecida por Deus para por ordem das coisas e não porque haja
alguém
superior a outrem.
Norma Braga descreve um
racismo às avessas quando mostra que foi
vítima de preconceito por parte de uma mulher negra. Neste ponto ela
passa a
mostrar que a forma como a luta contra o racismo é feita demonstra um
desvio
para caminharmos para outro tipo de preconceito.
Na parte final desta
seção Norma Braga destaca o perigo de uma
fé baseada em comprovações científicas. Na crônica “A Fé faz bem a
saúde” ela
destaca que nossa fé não deve ser baseada em coisas que fazem bem para
esta
vida, mas deve ser voltada para coisas muito maiores que estas. Além
disso, há
uma preocupação latente no escrito da autora para que o cristianismo
não viva
dos subjetivismos e relativismos que o mundo propõe. Norma mostra que
os
preceitos de Deus devem prevalecer diante dos anseios humanos.
A escritora volta a
atacar a questão do aborto com relação ao
cuidado que devemos ter sobre linguagens que camuflam o pecado dando a
ele
outra roupagem. Ela deixa clara sua posição contrária ao aborto,
independente
da situação que levou a gravidez, ou mesmo a saúde mental da criança.
Na crônica “O Pastor e o
Filósofo” a autora mostra de uma forma
esclarecedora os perigos da influência secular sobre a mente de alguém
que,
apesar de ser pregador, não tinha uma base sólida em sua doutrina. Um
pastor
que tinha dificuldade em aceitar a soberania de Deus e a existência do
mal.
Seguindo nesta linha a autora mostra o perigo que é crer de uma forma
relativa.
Neste ponto a autora mostra que (1) o mal existe desde o Éden (quero
crer que a
visão dela aqui se limita a humanidade, pois segundo na Bíblia vê-se
que o mal
existe antes do Éden); (2) até a redenção total Deus administra o mal
no mundo
de um modo que foge ao nosso entendimento; (3) a administração divina
não tira
a culpa do homem; (4) O arbítrio humano se restringe ao tempo, enquanto
a
soberania de Deus é atemporal. Dentro desta linha que se encontra na
crônica
“Outro Deus”, a autora mostra a falibilidade da argumentação de Ricardo
Gondim
(vide http://www.ricardogondim.com.br/estudos/tempo-de-partir/).
Ela desvenda com muita lucidez e perspicácia as contradições nas
argumentações
do respeitável escritor, principalmente no que tange à Palavra de Deus,
onde,
da forma que ele argumenta, parece que à Bíblia não é a Palavra de
Deus, mas
estaria repleta de contradições. Além disso, o Pr. Gondim se contradiz
quando
afirma que tudo que venha a falar sobre Deus é especulação, uma vez que
não é
possível conhece-Lo. Exposto isso, a autora descreve um fenômeno que
ocorre na
igreja brasileira, onde pastores têm se voltado para apoio a linhas
liberais em
função de uma teologia voltada para o social.
Mais uma vez a autora
ataca a esquerda política. Depois disto, a
nobre escritora desmonta as argumentações que limitam Deus em sua
soberania
tirando do Ser supremo o controle das coisas. Ela mostra que Deus é
Deus
exatamente por não perder o controle de nada. Ela descreve isto sem
perder a
ideia de que o homem é o responsável pelo mal que assola o mundo, mas
Deus não
perdeu o seu controle soberano.
Na terceira parte a
escritora passa a mostrar o caminho para
resolver as questões que foram levantadas na parte central. Ela inicia
destacando
o problema de nossa falibilidade infinita e a graça infinita de Deus
que, em
Cristo, nos resgata. É o grande dilema de estar no mundo sem ser do
mundo, que
intitula a segunda crônica desta parte. É saber que Jesus nos oferece
coisas
muito melhores e maiores das que estão no mundo. Afinal, somente em
Cristo
temos vida plena e verdadeira.
A autora mostra uma
preocupação com as diferentes cosmovisões
humanas que, acareadas com a cosmovisão cristã, mostram um deus longe
dAquele
que a Bíblia apresenta. A base argumentativa da escritora desnuda um
ideal
maior e perfeito na conversão a Cristo. Que por sua vez nos leva para
uma visão
de conforto eterna de algo melhor que nos aguarda.
O fechamento do livro
mostra textos profundos que declaram mais
uma vez a autoridade das Escrituras e a maravilhosa ação da graça de
Deus em
nossas vidas. Feito isso, a escritora encerra mostrando mais alguns
pontos
pessoais cuja ponta do iceberg foi a
perda do seu filho com dezenove semanas de gestação. Por fim, Norma
mostra a importância
de sairmos do mundo individualista que temos, principalmente olhando
para
sociedade brasileira, para que possamos ver o mundo pela ótica e a
mente de
Cristo.
O livro traz verdades
profundas. A maioria das crônicas é de
leitura fácil e atraente. Indico este livro para todos os cristãos que
queiram
realmente pensar em um cristianismo sério e que esteja dentro dos
padrões
estabelecidos por Deus.
Referência
Bibliográfica:
VENÂNCIO, Norma Braga. A
Mente de Cristo: Conversão e
Cosmovisão Cristã. São Paulo , SP:
Vida
Nova, 2012.
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